Fundos devem investir em projetos via BB, CEF e BNDES


Fundos devem investir em projetos via BB, CEF e BNDES

         Os veículos para investimento dos fundos de pensão em infra-estrutura – idéia discutida desde o início do governo Lula – devem ser fundos de investimento administrados pelos bancos oficiais (Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal e BNDES).

         De acordo com o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, os três maiores fundos de pensão do país (Previ, Petros e Funcef) já se reuniram com vários ministros, com o BNDES e estão acompanhando a discussão do Plano Plurianual de Investimentos (PPA). Os recursos que podem ser disponibilizados, na avaliação do dirigente, são consideráveis. Só a Funcef teria entre R$ 1,6 bilhão e R$ 3 bilhões, dependendo da modalidade de investimento. “A idéia é gerar funding para os bancos públicos investirem”, diz.

         Entre os modelos que estão sendo propostos, Lacerda cita os fundos de direitos creditórios e os chamados fundos mezzanino. Nesse tipo de investimento, regulamentado no ano passado pela CVM a pedido do BNDES, o cotista tem uma rentabilidade mínima garantida – que pode ser igual à meta atuarial dos fundos, de INPC + 6% ao ano – mais um percentual do lucro gerado pelas empresas da carteira do fundo.

         Outra proposta em discussão, conta Lacerda, é a troca de títulos públicos que as entidades têm em carteira por papéis desses bancos ou cotas de fundos administrados por eles. Petros e Funcef têm uma grande quantidade de NTNs em carteira, resultantes da negociação para pagamento de dívidas que as patrocinadoras tinham com seus fundos. “Nossa capacidade de investimento hoje é de R$ 1,6 bilhão, mas podemos chegar a R$ 3 bilhões com essa troca de títulos”, explica.

         O presidente da Petros, Wagner Pinheiro, confirma o interesse em investir em infra-estrutura, mas explica que a fundação ainda está estudando o assunto e não sabe avaliar quanto seria possível investir.

         Os projetos que podem receber recursos das entidades ainda não estão definidos. Os dirigentes frisam, porém, que os modelos de aplicação de recursos analisados devem estar de acordo com a necessidade das entidades de garantir rentabilidade para pagar benefícios e de liquidez para sair dos investimentos. Além disso, querem evitar repetir os maus negócios realizados nos últimos anos.

         “O importante é ter boa governança. Para investirmos em projetos diretamente, só com os marcos regulatórios definidos”, diz Lacerda, lembrando das dificuldades que os fundos enfrentam no setor elétrico, de transportes e das muitas ações judiciais que movem contra sócios e gestores.

         De acordo com Lacerda, as conversas com o governo vêm sendo tocadas pelos três maiores fundos de pensão de empresas estatais (Previ, Petros e Funcef), mas a idéia é engajar os fundos menores, principalmente os de estatais, no projeto. Segundo ele, as outras fundações devem ser apresentadas ao projeto em uma reunião, esta semana, no Rio. “Cada entidade tem seu limite de investimento, mas queremos fazer um levantamento para saber quanto cada um pode investir”, diz.

         Segundo o sócio de uma empresa de gestão que transita entre os fundos de pensão, há uma nítida disposição no governo de atuar mais estrategicamente junto às fundações, no sentido da política de investimentos, o que não significaria necessariamente um direcionamento de recursos para projetos pouco interessantes do ponto de vista financeiro. “Mas essa influência está ocorrendo mais nitidamente nos fundos realmente grandes”, disse a fonte. 
 
         Segundo o vice-presidente de investimentos da Caixa Econômica Federal, Wilson Risolia, além dos três fundos de direitos creditórios que envolvem projetos habitacionais – um deles em São Paulo, outro em Minas Gerais e um terceiro no Rio Grande do Norte -, outros projetos de investimento em infra-estrutura estão sendo estudados. Por enquanto, no entanto, os três primeiros fundos devem somar apenas cerca de R$ 200 milhões. Um outro fundo de mais de R$ 100 milhões nos setores de gás e saneamento está sendo estudado pela Caixa.

         Se a CVM persistir na exigência de que os fundos de direitos creditórios sejam direcionados apenas a investidores qualificados, será preciso buscar clientes institucionais e corporativos para esses fundos, que inicialmente foram anunciados para o público em geral. A Caixa também está estudando projetos de recebíveis do setor de saneamento básico.

          Recentemente, o Banco do Brasil anunciou que está estudando os setores para avaliar uma investida no crédito privado, possivelmente por meio de novos fundos de recebíveis e pelo aumento da posição em debêntures. Mas ressaltou que as investidas não seriam para o curto prazo e sim para um cenário de taxas de juros menores.

FONTE: Valor Econômico